segunda-feira, 8 de março de 2010

- sintomas


- Doutor, estou sentindo uma dor horrível.
- Onde é que dói ?
- Às vezes é no meu coração, às vezes é aqui na minha cabeça.
- O que é que o senhor faz, quando dói muito ?
- Quando eu não agüento mais, eu falo com quem eu gosto.
- Faz o que ?
- Falo com quem gosto. É tipo um exercício de felicidade.
- E desde quando lhe acontecem esses exercícios ?
- Desde sempre. Fui pensado em algumas pessoas distantes, em um amor brilhando na luz, em uma amizade como a do sol e da lua.
- Deixe-me ver sua língua.
- Minha língua já nem me obedece mais, e sempre fala o que não deve.
- Hm, sua língua está horrível. Mas não se preocupe, ninguém presta tanto a atenção nisso.
- Não é só a língua, doutor. Às vezes, tenho visões.
- Visões ?
- É, vejo planetas dourados, linhas inscritas no sol, e cores, flores, amores...
- O senhor conhece matemática ?
- Já ouvi falar.
- Entendo, seu caso está piorando.
- Vou morrer ?
- Um dia vai. Mas antes vais ser pior. Você pode ficar famoso.
- Pra sempre ?
- Não, quando é para sempre a gente chama glória. A fama passa.
- Ainda bem.
- Mas incomoda muito. Não tem horas em que você sente que tem uma platéia inteira lhe aplaudindo ?
- Onde ?
- Dentro da sua cabeça, é claro. Onde mais ?
- Que alívio o senhor me contar isso. Pensei que estava ficando louco.
- Quem sabe ?
- É, vai saber.
- Deixa eu completar os exames. Tem sentido muitos sintomas de concretismo e confiança ultimamente ?
- Só quando eu volto para os meu casos, mulheres, deslumbramento, prazer.
- Perfeito. Tem sentindo alguma dor além das outras duas?
- Só a noite, quando eu vou dormir sem ter sentido prazer no dia.
- Alguns impulsos não ditos certos ?
- Depois que fui apresentado a uma pessoa, esses sintomas desapareceram. Deviam ser conseqüência do abuso da solidão.
- Entendo. Não me admira que o senhor tenha tido tantas dores recentemente. Mas vou receitar uma dieta que vai lhe deixar muito bem.
- Antes disso, será que o senhor não me deixava cantar alguma coisa?
- Cantar? Mas eu não tenho nada aqui para o senhor cantar.
- Pode deixar que eu trouxe umas canções comigo.
- Cuidado. Cantar demais faz mal.
- Não se preocupe. Eu só vou cantar um pouquinho.
- Está bem. Pode começar.

"Se houver céu depois da terra, e nessa estrela a eterna primavera, tomara que a vida queira que a gente se encontre.Se houver céu, como nessa vida não há, a gente se encontrará, a gente se encontrará..."

- Deixa-me ver. O senhor tem algum vício?
- Eu amo uma mulher chamada Bruna.
- Há muito tempo?
- A vida toda.
- O senhor é o caso mais grave de amor que eu já vi até agora. Preciso consultar uns colegas.
- O que é que eu faço agora?
- Econtre-a e me telefone amanhã cedo, sem falta.

para ler da melhor maneira, ouça White Flag - Dido.

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