quarta-feira, 17 de março de 2010

- all good things


No começo ela era a amiga dos meus amigos, era a menina que eu adorava odiar porque ela era mais rápida, mais inteligente, mais mais do que todo mundo.
Nossa primeira conversa foi uma retardadisse totalmente infantil, mas acabou saindo dali uma amizade que mudaria quase tudo em mim.
Ao lado dela passei os dias mais inesquecíveis da minha vida e foi com ela que eu aprendi porque os poetas rimavam tanto amor com dor.
Infelizmente eu sempre soube que as coisas iam dar no caminho que deram, porque eu devo ter olho clínico para a coisa, mas nem por isso eu deixei de me apaixonar, no auge dos meus quatorze anos ela era tão diferente de todas as garotas que eu conhecia, ela era a menina que brilhava em mim, a que tinha o cabelo lindo e um jeito destemida de falar com todo mundo.
Na difícil escolha entre ser criança e adolescente a gente foi descobrindo junto, eram tardes inteiras brincando e noites conversando, querendo-não-querer revelar tanta coisa.
O inverno terminou, ela foi embora e as coisas não mudaram, eu ainda gostava dela, quando ela voltou a mim estava tão mais bonita, tão mais especial, o tempo tinha moldado ainda mais fantasias a respeito dela na minha mente.
Eu ficava mais próximo dela e começava a sentir muito ciúmes de todos os meus amigos que tinham contato com ela, eu a queria só para mim. Tinha feito minha escolha, não era mais criança, eu queria que ela deixasse de ser minha amiga e passasse a ser qualquer coisa mais que amiga.
Devia ter imaginado mais uma vez que as coisas não dariam certo, relacionamentos construídos em cima de fantasias nunca dão.
Acabei confessando todo o meu sentimento.
Mas em um dia eu comecei a ver quem era de fato a garota por quem tinha me apaixonado.
Foi a primeira decepção amorosa que eu tive eu achei que minhas lágrimas iam se acabar todas naquele dia.
Eu ainda assim podia ter desistido, podia ter entendido que não era para ser, que ela não era a minha princesa encantada. Não entendi. Não gosto e nunca gostei de perder, passei por cima da decepção e continuei confiando que se eu a amava tanto tinha que ser recíproco.
Mais dias de sonhos realizados e dias de decepção. Toda vez que a gente se encontrava eu descobria algo pior sobre ela e descobria que eu não era nada mais que um objeto nas mãos de alguém que eu gostava tanto.
O pior é que eu me permitia ser esse objeto simplesmente porque não queria admitir para mim que estava enganado, que ela não era nada que eu tinha sonhado, que eu era só um amigo e que nunca ia deixar de ser isso.
Minha ficha caiu !
Eu não queria mais ser metade sozinho, não queria mais um conto-de-fadas com uma princesa que ia sempre pro lado errado. Dei um basta e me fiz entender que eu tinha perdido.
Não era pra ser desde sempre, não daria certo, eu tinha entendido tudo errado desde o princípio mas a culpa não era só minha, ela tinha gostado de me ter por perto, tinha aceitado me usar, me magoar, me ofender.
Aprendi a lição, não existe amor sem amor-próprio, é impossível gostar do outro se não gostar de si mesmo.
Hoje nós somos bons amigos, amigos mesmo, ela me conta as conquistas dela, suas bobagens e eu morro de rir de ver que enfim tudo passou.
Minha decepção passou, o carinho ficou. Aprendi demais com ela para não desejar que ela seja feliz para sempre com o príncipe dela.
Achei outra princesa e fui com a cabeça erguida entendendo que essa também não seria perfeita mas que talvez fosse a hora de aprender a perdoar defeitos de fábrica.
A felicidade só vem quando você entende que tem que começar a procurar por ela.

'Bem mais que o tempo que nós perdemos
Ficou pra trás também o que nos juntou...'

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