domingo, 13 de junho de 2010

- The End.

Não era bem dor o que ele sentia, olhando compulsivamente o telefone. Gostaria que fosse, gostaria de gritar por socorro e de desmaiar, gostaria de ser levado a um hospital e de tomar remédios para amenizar.
Ele sentia o fim. Será que alguém já havia sentido isso?
Era quase como um órgão dentro dele, pulsando de um jeito diferente de todo o resto, um órgão gritando em meio ao silêncio. Um órgão que precisava de algo que não estava lá.
Adiantaria chorar? Ele sabia que não, fazia tempo aprendera que lágrimas longe de aliviar, trazem lembranças. Se chorasse ele se lembraria da primeira vez em que teve certeza de que o céu era mesmo tão azul, foi ao lado dela. Se lembraria do passeio sem rumo que tinha um caminho tão perfeito que o fazia querer estar ali para sempre.
Se chorasse ele se lembraria do fim. O fim presente ali dentro dele, até mesmo sem lembrança.
O telefone nunca mais tocaria durante a madrugada, ele não ouviria a voz de adolescente suave e encantadora dela, não falaria baixo para não acordar sua mãe, ele não sentiria o coração se alucinar ao ouvir o toque do telefone. Ela tinha partido. Ele tinha partido. O coração tinha partido. Uma palavra só para tantos significados.
Eles estavam juntos desde quando? Vai saber, o conceito de tempo era algo tão relativo para ele, agora não sabia mais se aquele último mês tinha sido toda uma vida, ou se toda uma vida tinha se transformado em um mês.
Ela agora estava do outro lado, aprendendo o novo e longe dele, longe de tudo que viveram, longe da vida que sonhara.
Ele disse o primeiro não. Falou adeus e acenou o mais forte que pode.
Ele, o dono daquele Fim sem tamanho dentro do seu corpo.
Certas coisas estavam certas a acontecer, fora perfeito, mas fora era um tempo verbal que não tinha futuro.
Terminou porque ele não poderia estar com ela e não queria ser nada pela metade. Não queria uma felicidade de mentira com uma pseudo-namorada. Não queria que ela desistisse, não queria a responsabilidade por algo que era maravilhoso, mas que era incerto.
Ele disse adeus. Disse para ela nunca mais ligar. Disse que mudara o número.
Mas o Fim ainda mantinha os olhos no telefone, ainda esperava que qualquer sinal de movimento quebrasse aquilo tão diferente que agora estava ali perto do coração.
E o telefone então ficava ali, uma ponte entre uma vontade não concretizada e um não dito sem querer-querendo. Uma fina linha transpondo um abismo. Trim. Sonho. Trim, trim, trim.
'Oi. Não, não é. Aqui quem fala é o dono de um Fim mandão e teimoso. Um Fim que parece que não vai abrir mão de mim nunca mais.' Tudo bem, era só engano, mais uma vez.
Energize!


'Se existe outra dimensão em que você não é você, quem é que sabe a direção pra encontrar quem não se vê?'

Nenhum comentário: